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Angra: 16 anos de “Temple of Shadows”, a obra mais complexa, técnica e versátil da banda

Angra: 16 anos de “Temple of Shadows”, a obra mais complexa, técnica e versátil da banda

6 de setembro de 2020


Em 6 de setembro de 2004, o ANGRA lançava o seu quinto full-lenght. “Temple of Shadows” é muito importante porque agora sim, tínhamos uma banda inteira influenciando no processo de composição, ao contrário do que havia acontecido em “Rebirth”, que apesar de ser um disco excelente, trazia os novos integrantes com pequena participação.

Após o seu “renascimento”, trazendo o vocalista Edu Falaschi do SYMBOLS, o baixista Felipe Andreolli do KARMA e o baterista Aquiles Priester, que deixava o HANGAR hibernando, o ANGRA gravou o disco “Rebirth” no ano de 2001 e o sucesso foi imediato: longas turnês, lançamento do ep “Hunters and Prey” e um disco ao vivo: “Rebirth World Tour – Live in São Paulo”. Tudo parecia conspirar a favor da banda.

E após colher os frutos do sucesso de “Rebirth”, a banda entrou no estúdio “Mosh”, na capital paulistana e sob a batuta do produtor Dennis Ward, a banda ficou entre os meses de janeiro e julho de 2004 fazendo “Temple of Shadows” vir a tona. E o disco conta com várias participações especiais. No Brasil, o álbum foi lançado mais uma vez pela “Paradoxx”.

Como o álbum anterior, “Temple of Shadows” é igualmente conceitual, que conta a história fictícia de um cavaleiro que se une ao exército convocado pelo Papa para participar da primeira cruzada (N. do R: ai entra o lado historiador do redator: a primeira cruzada aconteceu entre os anos de 1096 e 1099 d.C. e culminou na criação do Reino de Jerusalém).

Temos a abertura com “Deus Le Volt!”, que é uma introdução bem bonitinha. Eu que não sou chegado nessas intros até achei interessante a harmonia que eles colocam aqui.

Mas o disco abre de verdade com a faixa dois, “Spread Your Fire”, em que a banda chega com certa violência, sem abrir mão do lado melódico e do peso. É uma música simplesmente arrebatadora. Aqui temos as participações de Tito Falaschi, Zeca Loureiro, Rita Maria, todos fazendo backing vocal, e a brilhante participação de Sabine Edelsbacher (EDENBRIDGE) no vocal lírico.

“Angels and Demons” é a minha favorita deste play, por ela ter um lado mais prog, com a cozinha trabalhando muito bem: Felipe Andreolli com excelentes linhas em seu baixo e o “polvo” Aquiles Priester arrebentando no seu bumbo duplo que simplesmente não pára um segundo. Em minha opinião, essa é a melhor composição desta formação do ANGRA. Dennis Ward participou no backing vocal por aqui.

“Waiting Silence” é bem melódica, com alguns flertes com o Prog Metal, refrão grudento, um certo peso e Felipe Andreolli mandando muito bem, além da eterna dupla de guitarristas, Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt, explorando toda a técnica que eles têm. Dennis Ward participa novamente nos backing vocals nesta música. “Wishing Well” é uma baladinha, com boas harmonias e melodias, mas uma música apenas ok. Muito longe das melhores baladas já produzidas pelo ANGRA.

O nível volta ao topo com “The Temple of Hate”, uma música rápida onde a dupla de guitarristas dá um verdadeiro espetáculo, tanto no dueto da introdução, quanto nos riffs. E a participação do gigante Kai Hansen, duelando com Edu Falaschi, deixa a música ainda mais grandiosa.

“The Shadow Hunter” conta uma bela introdução de violão flamenco. e a música se desenvolve num clima bem intimista, com muito de progressivo no alto de seus mais de 8 minutos. “No Pain for the Dead” é outra balada em que os caras exploraram tudo de melhor que suas aptidões permitiram e no meio da música temos um clima atmosférico, onde a vocalista Sabine Eldesbacher novamente participa de forma brilhante.

E para quem gosta de Metal para valer, as coisas voltam a ficar interessantes em “Winds of Destination”: riffs pesados e interessantes, a mudança repentina de andamento, com as guitarras dando vez ao teclado em certo momento da música, além da muita influência de BLIND GUARDIAN. Também isso se explica, o excelentíssimo vocalista Hansi Kursch abrilhanta ainda mais o disco. Novamente Tito Falaschi, Rita Maria, Zeca Loureiro e Dennis Ward voltam a participar nos backing vocals.

“Sprouts of Time” traz um pouco de influência da música brasileira, em uma música que tenta fazer uma releitura do que foi a faixa “Gentle Change”, de “Fireworks”. O resultado aqui é satisfatório, se compararmos com a faixa gravada em 1998, apesar dos bons momentos que temos aqui. “Morning Star” aposta novamente no Prog, porém aqui a música tem momentos densos, com muitas mudanças no seu andamento em seus mais de 7 minutos de duração.
“Late Redemption” é um marco na carreira da banda: eles já haviam feito uma versão em português para a faixa “Hunters and Prey”, agora, eles faziam uma mistura de inglês com português na letra e a banda inovou ao chamar o excelente Milton Nascimento para participar no trecho cantado na nossa língua-mãe. E musicalmente, temos uma verdadeira avalanche de criatividade e harmonia, com violões brilhando na intro e no meio da música, com partes densas. Difícil dizer qual música é mais complexa do ponto de vista criativo na história do ANGRA, mas esta música com certeza figura no Top 5. E a banda haveria de inovar ainda mais no futuro, colocando na mesma música, Sandy e Alissa White-Gluz.

Fechando o disco temos a orquestral “Gate XII”, que reproduz trechos instrumentais de algumas da músicas que foram tocadas neste mesmo play, que teve uma tarefa ainda mais árdua do que “Rebirth”; se o antecessor representava o renascimento da banda após a saída de três dos cinco membros, o aniversariante de hoje era a mostra de que o ANGRA ainda tinha muita lenha para queimar e que seu legado como um dos maiores nomes da cena nacional estava sendo construído com muita maestria.

Enfim, em pouco mais de 66 minutos temos o disco que muitos consideram como sendo o melhor da carreira do ANGRA. Eu não chego a tanto, mas certamente o considero o mais complexo desta formação que era bem talentosa e que infelizmente, por problemas internos, acabou não durando tanto. Mas é um disco para ser celebrado sim, vamos torcer para que tudo se normalize o quanto antes e desejar longa vida para este quinteto, e sobretudo, Rafael Bittencourt, único membro original. O cara é um guerreiro e merece todo nosso reconhecimento.

Temple of Shadows – Angra
Data de lançamento – 06/09/2004
Gravadora – Paradoxx/ SPV

Lineup:
Edu Falaschi – Vocal
Kiko Loureiro – Guitarra
Rafael Bittencourt – Guitarra
Felipe Andreolli – Baixo
Aquiles Priester – Bateria

Tracklisting:
01 – Deus Le Volt!
02 – Spread Your Fire
03 – Angels and Demons
04 – Waiting Silence
05 – Wishing Well
06 – The Temple of Hate
07 – The Shadow Hunter
08 – No Pain for the Dead
09 – Winds of Destination
10 – Sprouts of Time
11 – Morning Star
12 – Late Redemption
13 – Gate XIII