Memory Remains

Memory Remains: Alice in Chains – 27 anos do álbum autointitulado e os problemas de Layne Staley com as drogas

Memory Remains: Alice in Chains – 27 anos do álbum autointitulado e os problemas de Layne Staley com as drogas

7 de novembro de 2022


 

Em 7 de novembro de 1995, o Alice in Chains lançava seu álbum homônimo, o terceiro de sua carreira e o último com o inesquecível vocalista Layne Staley, que é assunto do nosso Memory Remains desta segunda-feira.

O álbum encerrou um jejum de três anos sem lançamento de um álbum inteiro. Entre “Dirt” e o aniversariante do dia, a banda lançou um EP, “Jar of Flies“, em 1993, quando eles passaram pelo Brasil para tocar no saudoso Hollywood Rock, na companhia do Nirvana. Em 1995, haviam rumores de que a banda havia se separado e até mesmo de que Layne Staley havia morrido. Então eles se juntaram para provar que todos estavam errados.

Haviam razões para as suspeitas, pois o Alice In Chains se viu obrigado a cancelar uma tour que faria com o Metallica, Suicidal Tendencies e Fight, pois Layne Staley que havia parado em uma clínica de reabilitação para se tratar do vício em cocIna, teve uma recaída no vício. Então a banda deu um tempo. Layne montou o Mad Season, um projeto com o guitarrista do Pearl Jam, Mike McCreaddy, enquanto que Jerry Cantrell trabalhou em um álbum solo.

Todos foram ao Bad Animals Studio, em Seattle, acompanhados do produtor Toby Wright, onde ficaram entre os meses de abril e agosto daquele ano. O álbum é comumente chamado de “Tripod”, “The Dog Album” ou “The Dog Record”, devido a arte da capa, que retrata um cão com três patas. Tripod era o nome de um cão que aterrorizava o baterista Sean Kinney, quando este era um entregador de jornais em sua juventude e isso inspirou a capa do álbum. Alguns cães foram utilizados para a sessão de fotos, mas nenhum deles pertencia a Jerry Cantrell como diziam os boatos na época.

Se este foi o último álbum com Layne Staley, como dissemos no início deste texto, esse álbum marca a estreia do baixista Mike Inez e também é o último álbum pela major Columbia. Este também é o álbum do Alice in Chains a contar com o major número de composições por Layne Staley. À exceção de “Grind“, “Head Creeps” e “Frogs“, todas as demais letras foram escritas pelo frontman. As letras tem temas sombrios, que giram em torno de assuntos como morte, depressão, relacionamentos, isolamento, uso de drogas. O vocalista certa vez deu uma declaração sobre as suas letras:

“Eu apenas escrevi o que estava em minha mente… então muitas das letras são muito soltas. Se você me pedisse para cantar as letras para provavelmente qualquer um deles agora, eu não poderia fazê-lo. Eu não tenho certeza do que eles são porque eles ainda são tão frescos. Por muito tempo eu deixei problemas e relacionamentos azedos governarem sobre mim, em vez de deixar a água rolar pelas minhas costas… Achei legal poder escrever uma música tão sombria e deprimente. Mas então, em vez de ser terapêutico, , estava começando a se arrastar e continuar doendo. Desta vez eu apenas senti, ‘Foda-se. Eu posso escrever boa música, e se eu me sentir à vontade e com vontade de rir, eu posso rir.’ Não há uma mensagem enorme e profunda em nenhuma das músicas. Era apenas o que estava acontecendo na minha cabeça naquele momento. Tivemos bons e maus momentos. Gravamos alguns meses sendo humanos.”

As sessões de estúdio foram marcadas pelos atrasos de Layne, em decorrência do seu vício em heroína. A gerente da banda, Susan Silver deu a seguinte declaração:

“Foi uma sessão realmente dolorosa porque demorou muito. Foi horrível ver [Layne] naquela condição. No entanto, quando ele estava ciente, ele era o mais doce, cara de olhos brilhantes que você gostaria de conhecer. Estar em uma reunião com ele e fazê-lo adormecer na sua frente foi angustiante.”

Jerry Cantrell disse também que “Muitas vezes foi deprimente, e fazê-lo parecia como arrancar os cabelos, mas foi a coisa mais legal, e estou feliz por ter passado por isso. memória para sempre”. Layne, por sua vez, disse que iria amar o álbum para sempre, pois foi o único que ele se lembrava de ter feito. Vamos colocar a bolacha para rolar e conferir as doze faixas contidas aqui.

Grind” é a música que abre a obra e o peso que a banda mostra é ainda maior do que ficou no play anterior, “Dirt“. Aqui temos uma canção que beira o Doom Metal. A letra é uma espécie de resposta de Cantrell (que canta aqui) para aqueles que achavam que a banda havia acabado, e Layne Staley estava morto, o que viria a acontecer anos mais tarde. “Brush Away” mantém o flerte com o Doom, porém, em uma canção mais atmosférica e muito agradável. Destaque para o baixo de Mike Inez, que dá um peso a mais na música.

Sludge Factory” devolve o clima pesado e sombrio que a faixa de abertura havia dado ao disco. Embora depressiva, é uma música excelente. Em seguida, temos uma música que não temuito a ver com o estilo do Alice in Chains, mas mesmo assim, é uma das melhores de toda a carreira da banda: “Heaven Beside You“, que tem um clima bem provinciano e mostra que a banda também sabe se sair bem quando faz uma canção sem o peso habitual, e ela tem momentos de peso e um solo maravilhoso de Cantrell, que também canta aqui. A letra foi escrita pelo guitarrista e fala sobre o final do seu relacionamento com sua ex-namorada após sete anos.

Head Creeps” traz de volta o peso, tendo nos riffs poderosos de Jerry Cantrell, o seu carro-chefe. “Away” é uma música que viaja entre o Hard Rock e o Sludge Rock. Bastante pesado e contou novamente com a colaboração do baixista Mike Inez para ajudar a deixar a faixa ainda mais pesada. “Shame in You” é a balada do disco, com ótimas harmonias e um clima menos depressivo do que o restante do álbum.

God Am” tem um timbre de guitarra sujo e mantém a banda surfando na onda do Doom. “So Close” é mais direta e relembra a sonoridade mais antiga da banda, assim como “Nothin’ Song“, que traz a sonoridade crua, ao mesmo tempo, visceral e pesada. “Frogs” é densa e tem nas guitarras o seu maior destaque, a música que é a última cantada por Staley em estúdio. Ele não sabia disso, nós também não. E “Over Now“, uma música tranquila onde brilha a voz de Cantrell.

São 64 minutos de um álbum bem tocado, pesado e pra lá de depressivo, mas que dá vontade de apertar o play novamente quando ele se encerra. Você sente uma tristeza no disco, como Jerry Cantrell relembrou em uma entrevista no ano de 2018:

“Há uma tristeza nesse disco – é o som de uma banda desmoronando. Foi nosso último álbum de estúdio [até aquele momento]. É um disco lindo, mas também triste. É um pouco mais exploratório, um pouco mais sinuoso. Não é tão elaborado quanto o resto de nossos discos.”

Embora não tão bem sucedido quanto “Dirt“, o álbum teve bom desempenho: alcançou o topo da “Billboard 200“, ficou em 4° na categoria de álbuns de Rock e Metal do Reino Unido, 5° na Austrália e no Canadá, 11° na Suécia e na Noruega, 13° na Finlândia, 28° na Nova Zelândia, 37° no Reino Unido e na Escócia; 75° na Holanda e 93° na Alemanha. Foi ainda certificado com Disco de Prata no Reino Unido, Ouro no Canadá, Platina no Reino Unido e duplo Platina nos Estados Unidos. Os clipes para “Grind” e “Again” foram indicados para o Grammy, na categoria “Melhor Performance de Hard Rock” e o clipe de “Again” foi indicado ao MTV Music Awards, na categoria “Melhor Vídeo de Hard Rock”.

A banda fez poucos shows para divulgar este disco, sendo que a maior delas foi em abril de 1996, quando eles gravaram o acústico MTV. Esse é uma das maiores apresentações de sempre deste formato. Em 2002, o mundo ficaria de luto ao saber da passagem de Layne Staley, vítima de overdose. Mas Jerry Cantrell não esmoreceu, recrutou o vocalista/ guitarrista William DuVall e a banda segue na ativa até hoje, lançando álbuns e fazendo shows. Layne faz muita falta e será lembrado para sempre. E nós desejamos longa vida ao Alice in Chains. Hoje é dia de celebrar esse play, escutando-o no volume máximo.

Alice In Chains – Alice in Chains

Data de lançamento – 07/11/1995

Gravadora – Columbia

 

Faixas:

01 – Grind

02 – Brush Away

03 – Sludge Factory

04 – Heaven Beside You

05 – Head Creeps

06 – Away

07 – Shame in You

08 – God Am

09 – So Close

10 – Nothin’ Song

11 – Frogs

12 – Over Now

 

Formação:

Layne Staley – vocal

Jerry Cantrell – guitarra/ vocal em “Grind”, “Heaven Beside You” e “Over Now”

Mike Inez – baixo

Sean Kinney – bateria