Memory Remains

Memory Remains: Death – 24 anos de “The Sound of Perseverance”, o canto do cisne do pai do Death Metal

Memory Remains: Death – 24 anos de “The Sound of Perseverance”, o canto do cisne do pai do Death Metal

31 de agosto de 2022


Em 31 de agosto de 1998, o Death lançava “The Sound of Perseverance”, o sétimo é último disco desta banda que é considerada a mãe do Death Metal. O aniversariante do dia tem histórias curiosas e nós vamos te contar um pouco delas no Memory Remains desta quarta-feira.

As músicas presentes aqui seriam parte de um projeto que Chuck Schuldiner estava preparando e que até saiu do papel: o Control Denied. Porém, o frontman assinou com a Nuclear Blast e ele acabou usando o material em um novo play do Death por pressão do selo, que queria um disco sob o nome da banda e não de um projeto paralelo de Chuck, ainda que ele tenha dito em entrevistas que não foi pressionado a gravar um disco com o Death, mas a sua cabeça já estava no Control Denied.

Chuck trabalhou nas composições durante os anos de 1996/1997. A instrumental “Voice of the Soul“, de acordo com o líder do Death, foi concebida durante as sessões do álbum “Symbollic“, mas por alguma razão, acabou ficando de fora do disco e entrou aqui em “The Sound of Perseverance“.

Então Chuck reformulou toda a banda: entraram o guitarrista Shannon Hamm, o baixista Scott Cledenin e o baterista Richard Christy, nos lugares de Bobby Koelble, Kelly Conlon e Gene Hoglan, respectivamente. Steve Di Giorgio, que gravou algumas faixas em “Symbollic“, o álbum anterior, chegou a gravar as demos que resultaram no álbum do dia. Eles se reuniram no icônico “Morrisound Studios“, em Tampa, Florida, tendo Chuck e Jim Morris na produção e saiu essa coisa linda que iremos destrinchar abaixo.

Temos a abertura com a sensacional “Scavenger of Human Sorrow“, que começa com a bateria violentamente agressiva e cheia de quebradeira de Richard Christy. E que sonzeira, cheia de partes diferentes, de mudanças de andamento durante toda a sua extensão, com aquela violência e velocidade no refrão. É a minha música favorita da carreira do Death. E foi também a primeira que eu escutei dos caras. Ela é pesada, linda, perfeita!

Bite the Pain” tem o começo bem melódico, tranquilo para os padrões do Death, mas isso é pura “enganação”. Logo os riffs agressivos de Chuck Schuldiner entram em ação em conjunto com os bumbos duplos de Richard . E aqui temos várias partes diferentes, diversas variações, uma outra música que mostra que a capacidade criativa de Chuck era impressionante.

Outra das minhas favoritas do Death chega, com o baixo de Scott Clendenin anunciando: “Spirit Crusher“. Que som lindo, bem progressivo nas estrofes e com a quebradeira e o selo de qualidade do Death em seu refrão. “Story to Tell” é mais arrastadona, porém, densa e muito pesada em que o baixo de Scott Clendenin surge mais uma vez, dando mais peso, ajudando os riffs da dupla Chuck e Shannon Hamm. Um sonzão.

Flesh and the Power It Holds” é fantástica, um clima atmosférico toma conta deste som na sua intro e logo temos de volta partes rápidas com riffs hipnóticos e com Richard Christy destruindo tudo com seu bumbo duplo. As mudanças de andamento são absurdas e tudo volta a ser rápido do meio para o final. Que som é esse, senhores.

Voice of the Soul” é instrumental e começa com um violão bem agradável em sua intro, que logo se junta a um solo de guitarra e ambos vão trabalhando juntos até o final, sem a participação do baixo e da bateria. E com melodias bem interessantes, sendo uma faixa que acalma os ânimos de um disco caótico de pesado. Sobre essa faixa, ela, juntamente com “Cosmic Sea“, do álbum “Human” são as únicas a serem inteiramente instrumentais em toda a carreira do Death.

To Forgive is to Suffer” traz novamente as viradas sensacionais de Richard Christy, e aqui temos uma faixa bem Heavy Metal em suas partes mais rápidas, chegando a lembrar o Judas Priest, mas, claro, com aquelas mudanças de andamento que parecem não fazer sentido algum, porém, isso é a essência do Death. Uma banda que sob a batuta do seu mentor Chuck Schuldiner era assim. Fazia músicas complexas, em que você viaja do Death Metal ao Progressivo em segundos. E aqui até os blast-beat’s dão as caras em algum momento.

A Moment of Clarity” começa com riffs mais cadenciadas e logo a música descamba para um Death Metal rápido, mudando bruscamente seu andamento no refrão e tendo a inclusão de solos pra lá de melódicos. Temos “Painkilker” de bônus track. Se a versão original é matadora, a do Angra é a mais técnica, a do Death é mais letal e agressiva. E com os vocais rasgados de Chuck a música ganhou ainda mais potência. Conseguiram melhorar o que já era perfeito.

Em pouco mais de 56 minutos temos aqui o canto do cisne do Death. Um disco poderoso e que, como dito no início deste texto, quase não saiu sob o nome da banda principal de Chuck Schuldiner. Ele viria a falecer três anos mais tarde, mas antes fez o seu projeto Control Denied ver a luz do dia. O vocalista do projeto seria o seu amigo de longa data, Warrel Dane, que declinou por conta de compromissos com o Nevermore. E o curioso é que ambos morreram no mesmo dia 13 de dezembro. Chuck em 2001 e Warrel em 2017.

O álbum recebeu excelentes respostas tanto da crítica especializada quanto do público. É considerado por muitos como o melhor disco do Death. Decerto, mostra a maturidade musical de Chuck Schuldiner, que era um gênio. Se “Symbollic“, o álbum anterior, já demonstrava ser o ápice da carreira do Death, em “The Sound of Perseverance“, um álbum com composições inclinadas a vertente do Prog Metal, trazendo riffs intrincados e músicas ainda mais complexas, mostra que a banda poderia evoluir ainda mais se tivesse sido continuada. E sem perder a essência, o peso e a técnica extrema, características tão marcantes para o Death.

O aniversariante do dia figurou em alguns charts mundo afora: 35° na Áustria, 60° na Alemanha e 93° na Holanda. Em dezembro de 2005, a Nuclear Blast lançou uma edição deluxe do álbum, que continha também um DVD com uma apresentação da banda em Cottbus no ano de 1998. Em 2011, foi a vez da Relapse lançar outra edição especial do álbum, contendo faixas demo, além da capa que teve a arte revisada pelo desenhista Travis Smith, o mesmo que desenhou a primeira versão em 1998.

Foi o primeiro disco da banda que eu escutei e aguçou a minha curiosidade em desbravar a discografia desta lenda chamada Chuck Schuldiner. Não o temos entre nós para nos brindar com seus riffs insanos e músicas pra lá de técnicas e complexas, então encerro este texto com uma frase que eu tenho repetido de forma muito recorrente. Eu escuto gente morta!

The Sound of Perseverance – Death

Data de lançamento – 31/08/1998

Gravadora – Nuclear Blast 

 

Faixas:

01 – Scavenger of Human Sorrow

02 – Bite the Pain

03 – Spirit Crusher

04 – Story to Tell

05 – Flesh and the Power it Holds

06 – Voice of the Soul

07 – To Forgive is a Suffer

08 – A Moment of Clarity

09 – Painkiller

 

Formação:

Chuck Schuldiner – Vocal/Guitarra

Shannon Hamm – Guitarra

Scott Clendenin – Baixo

Richard Christy – Bateria