Memory Remains

Memory Remains: Metallica – 35 anos de “…And Justice For All” e o trote no calouro Jason Newsted

6 de setembro de 2023


Há 35 anos, em 6 de setembro de 1988, o Metallica lançava seu quarto álbum: e “…And Justice for All” era muito mais do que simplesmente um disco de estúdio. Era a banda tentando se recuperar de um golpe duríssimo que o destino aplicou à banda: a morte de Cliff Burton, em um acidente de ônibus, dois anos antes, na Suécia. Hoje esse álbum é assunto do nosso Memory Remains desta quarta-feira.

A banda recrutou o jovem Jason Newsted, que tocava no Flotsam & Jetsam. O cara era fanático pelo Metallica e impressionou aos músicos por saber cada nota das músicas da banda quando da sua audição. Parecia ser a pessoa mais indicada para o posto… Mas as coisas não eram tão simples assim. E só depois que ele saiu da banda que tivemos acesso aos percalços que o cara foi obrigado a suportar por ter ficado 14 anos no Metallica.

Pois bem, antes de gravar o álbum homenageado de hoje, o Metallica gravou um disco de covers com seus novos companheiros, o “The $5,98 EP – Garage Days…Re-Revisited“, onde a banda tocava versões para músicas do Misfits, Diamond Head, Killing Joke e Holocaust, canções que o Metallica já tocava desde os tempos que Dave Mustaine ainda fazia parte do quarteto.

O álbum foi gravado no estúdio “One on One“, em Los Angeles, entre os meses de janeiro e maio de 1988, com produção de Flemming Rasmussen, a essa altura, já parceiro de longa data da banda e que só não havia produzido o disco de estreia. Seria o último trampo do produtor junto ao Metallica e no primeiro momento o produtor não estava disponível, então a banda optou por chamar o produtor Mike Clink, que chamou atenção pelo trabalho realizado no álbum de estreia do Guns ‘N’ Roses, “Appetit for Destruction“. Mas as coisas não deram muito certo e quando Rasmussen esteve novamente disponível, Mike foi demitido. Entretanto, ele é creditado por trabalhar na mixagem de duas músicas no álbum.

Os temas líricos abordados nesta obra giram em torno das injustiças no sistema das leis, supressão de liberdades, guerra, intensidade e ódio. Para aumentar o entrosamento, o Metallica gravou dois covers, que não entraram no álbum, mas foram lançadas como lado B dos singles e dez anos mais tarde, saiu no CD duplo “Garage Inc.”. As músicas são “Bredfan” e “The Prince“.

Em 65 minutos de audição, temos o Metallica soando ainda rápido e pesado, em sua última aparição de fato como uma banda de Thrash Metal, mas também apostando em composições mais complexas e extensas. É uma média de oito minutos por cada canção. Mais uma vez os caras fizeram um álbum bem acima da média, nenhuma música aqui é ruim. O ponto negativo é a produção que fez o trote com Jason Newsted e deixou o baixo inaudível. Flemming Rasmussen disse que a sugestão de abaixar o volume do baixo foi ideia da dupla James-Lars.

O trote para com Jason Newsted foi intenso. Para se ter uma ideia, ele foi isolado até mesmo na hora de gravar suas partes. Deslocaram o rapaz para uma sala, onde ele gravava suas partes praticamente sozinho, acompanhado somente de um assistente. Tal fato fez com que ele fizesse inevitáveis comparações com sua antiga banda. Jason chegou a dizer que nos tempos do Flotsam & Jetsam, toda a banda se reunia e tocava, criando um grande paredão sonoro, coisa que ele não teve no Metallica. Somente no álbum posterior, o álbum preto, que ele veio a ganhar algum protagonismo.

Lars Ulrich também não gostou nada nada dos solos criados por Kirk Hammet para as músicas aqui em “…And Justice for All“. Tanto que o baterista reescreveu praticamente todos os solos para que o guitarrista pudesse gravar novamente. Os solos de Kirk nunca foram de deixar os ouvintes sem fôlego, é bem verdade e sua fama de preguiçoso só foi aumentando com o tempo.

Foi aqui no aniversariante do dia que o Metallica produziu seu primeiro videoclipe, para a música “One“, que se tornou um clássico da banda, amada até mesmo por aqueles que não são familiarizados com o Thrash Metal. É obrigatória nas apresentações da banda até os dias atuais, assim como outras canções como “Blackened” e “Harvester of Sorrow“, que também não são esquecidas e volta e meia, estão no setlist da banda.

A faixa “To Live is to Die” é creditada a Cliff Burton e as partes de baixo que foram tocadas pelo estreante Jason Newsted eram de um medley gravado por Cliff. Então os demais integrantes do Metallica escreveram novos arranjos a partir destas bases de baixo e assim nasceu o instrumental. A frase recitada por James durante a execução da música, que diz “when a man lies, he murders some part of the world… ” (N. do R: Quando um homem mente, ele mata boa parte do mundo, em tradução livre) é creditada no encarte de maneira errônea ao saudoso baixista. Na verdade, a frase é de autoria do poeta alemão Paul Gerhardt.

“…And Justice for All” vendeu mais de 8 milhões de cópias só nos Estados Unidos. Em 2017, ele foi eleito o 21º melhor álbum de Metal de todos os tempos pela revista“Rolling Stone“. Ele figura na lista dos 200 álbuns definitivos no “Rock and Roll Hall of Fame“. Nos charts, o álbum atingiu o topo nas paradas finlandesas. Na Alemanha ficou em 3°; 4° no Reino Unido, 5° na Suécia, 6° na “Billboard 200”; 7° na Suíça e na Polônia, 8° na Espanha e na Noruega, 9° em Portugal, 12° na Áustria, 13° no Canadá, 16° na Austrália; 19° na Holanda, 22° na Hungria, 25° na Bélgica, 36° na Nova Zelândia, 48° na Irlanda, 56° na Itália, 92° no México e 130° na França. Foi certificado com Disco de Ouro na Nova Zelândia, Noruega e Reino Unido; Platina na Argentina, Polônia, Finlândia e Suíça; Duplo Platina na Austrália e na Alemanha, Triplo Platina no Canadá e oito vezes Platina nos Estados Unidos.

A banda caiu na estrada para apresentar seu novo álbum e também seu novo baixista. A turnê visitou várias partes do mundo, inclusive o Brasil, era a primeira vez que o Metallica brotava em nossas terras, quando fez duas apresentações em São Paulo, no ginásio do Ibirapuera. Os reis do Thrash Metal enfim davam as caras por aqui, na primeira de muitas visitas.

E o resto é história, a banda seguiu crescendo e hoje já não mais precisam se apegar ao Thrash Metal de outrora para manter seu nome e seu legado vivos. Essa semana recebemos a notícia de que James Hetfield está com COVID-19 e a nossa torcida é pela sua rápida recuperação, para que o Metallica siga na estrada, fazendo shows e emocionando a uma verdadeira legião de fãs que eles têm por esse mundão. Hoje é dia de celebrar esse discaço, o último esboço do Thrash Metal na carreira do Metallica.

... And Justice For All – Metallica 

Data de lançamento – 06/09/1988

Gravadora – Vertigo/ Eletrika

 

Faixas:

01 – Blackened

02 – …And Justice for All

03 – Eye of the Beholder

04 – One

05 – The Shortest Straw

06 – Harvester of Sorrow

07 – The Frayed Ends of Sanity

08 – To Live is to Die

09 – Dyers Eve

 

Formação:

James Hetfield – vocal/ guitarra

Lars Ulrich – bateria

Kirk Hammet – guitarra

Jason Newsted – baixo