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Memory Remains: Slayer – 34 anos de “South of Heaven” e a redução brusca na velocidade das músicas

Memory Remains: Slayer – 34 anos de “South of Heaven” e a redução brusca na velocidade das músicas

5 de julho de 2022


Em 1988, o mundo era bastante diferente deste que vivemos hoje. Não existia internet, redes sociais e as notícias demoravam um pouco para se disseminar. Vivíamos os momentos finais da Guerra Fria, conflito ideológico travado por Estados Unidos e União Soviética e o Brasil passava por uma séria recessão econômica, herança do governo militar. Na música, o Slayer assombrava o mundo tirando vertiginosamente o pé do acelerador com o lançamento de “South of Heaven“, lançado neste 5 de julho, há exatos 34 anos e que é assunto do nosso Memory Remains desta terça-feira.

O aniversariante do dia é o quarto na discografia do quarteto. Depois do sucesso estrondoso que foi “Reign in Blood“, considerado se não o melhor, mas um dos melhores discos de Thrash Metal já lançados na história. A responsabilidade era grande para os caras. E quem esperava um álbum rápido como o anterior, acabou se surpreendendo. Os caras tiraram bastante o pé do acelerador, mas o resultado ficou com o selo de qualidade que todos nós sempre esperávamos do Slayer.

Este é o segundo dos discos da fase que eu considero como a “santíssima trindade” do quarteto. A banda estava vivendo o seu auge. E embora eu particularmente reconheça a importância de “Reign in Blood” e também o classifique como o melhor disco do estilo já lançado, o meu coração pende mais para o aniversariante do dia e por isso, ele é o meu favorito da discografia dos caras, sendo mais do que merecedor da crônica de hoje.

Então, a banda se juntou ao produtor de longa data, Rick Rubin, e o disco foi gravado no “Hit City West”, em Los Angeles, a mixagem em Nova Iorque, a cargo de um certo Andy Wallace e lançado pela Def Jam Records, com distribuição da Geffen Records, através da Warner.

É importante ressaltar que além da velocidade ainda existia,  foi bem reduzida em relação ao álbum anterior, os timbres de guitarras sofreram alterações, mas a qualidade musical permaneceu intacta. A ansiedade é enorme, vamos destrinchar cada uma das dez faixas abaixo:

Abrindo o disco temos a faixa título, com aquela intro sombria, a bateria retumbante de Dave Lombardo e os riffs precisos da dupla Kerry King/ Jeff Hanneman dão à qualidade da música que nasceu clássica. Com certeza, o fã estranhou aquela que era a música com o andamento mais arrastado da banda até então. Mas ela é linda, perfeita. “Silent Scream” traz um esboço do que foi feito em “Reign in Blood“: uma música agressiva, rápida, onde as palhetadas ditam as regras. outro petardo. “Live Undead” traz de volta um Slayer diferente, uma música arrastadona durante boa parte de sua extensão, porém, na parte em que antecede o solo, ela fica veloz e termina em grande estilo. Outra música perfeita.

Behind the Crooked Cross” traz a banda tocando um pouco mais rápido, pelo menos em comparação com a música anterior e o destaque aqui é o baterista Dave Lombardo e suas viradas excepcionais, dando um brilho ainda maior à música. “Mandatory Suicide” é uma das músicas mais completas de toda a história da banda. Ela mostra mais uma vez esse Slayer “diferentão”, mas quem resiste aos riffs dessa que foi uma das mais espetaculares duplas do Thrash Metal, mesmo que ambos não fossem assim tão virtuosos? O solo também é bem legal. Essa foi uma das primeiras músicas da banda que eu conheci, então meu carinho por ela é muito especial.

Martin Häusler

Em “Ghosts of War” temos de volta a velocidade que o fã do Slayer procura e espera das músicas da banda. Ainda que tenhamos uma mudança de andamento do meio para o final, onde os riffs se mostram poderosos. E Dave Lombardo novamente se destacando, seja nas viradas, seja na levada. “Read Between the Lies” é outra que nasceu clássica. Seus riffs repetitivos durante as estrofes nos convida a tocar nossa air guitar ou a manter nossas cabeças em posição estática. O pau volta a comer solto em “Cleanse the Soul“. Com uma bateria bem core e palhetadas à velocidade da luz, essa música é um convite ao mosh. Outra perfeição.

Dissident Aggressor” é um cover do Judas Priest, coisa que confesso que não sabia durante muito tempo. E olha que eu já escuto esse álbum há pelo menos uns 20 anos. Então fui escutar a versão original, já que essa do Slayer eu conheço bem e adoro. E ao ouvir a original, percebo que o quarteto não mudou nada na estrutura musical. A diferença é apenas no vocal, onde Tom Araya nunca conseguiria alcançar os agudos do “Metal God”, Rob Ralford. E o solo também fora modificado por eles. Ficou bem fidedigna a versão,

Fechando o disco temos a arrastada e não menos maravilhosa “Spill the Blood“, que começa com uma guitarra dedilhada e depois Dave Lombardo chega quebrando tudo com suas viradas espetaculares. Uma longa introdução que nunca soa pedante nos faz viajar e assim se encerra este álbum em que o Slayer inovou. desagradando aos que esperavam rapidez, mas que cravou alguns clássicos na carreira da banda e este play não fugiu à regra.

South of Heaven” teve um relativo sucesso comercial: foi o segundo álbum da banda a figurar na “Billboard 200”, alcançando a 57ª ´posição. Na Austrália ficou em 53º, na Suécia obteve o 50º posto; 31º colocado na Holanda, 25° no Reino Unido e 23º na Alemanha, além de disco de ouro no Canadá e nos Estados Unidos e prata no Reino Unido. Não é pouco, ainda mais por se tratar de um álbum de Thrash Metal.

Em menos de 37 minutos, com dez músicas perfeitas, temos um disco que mescla bem um Slayer veloz de “Reign in Blood“, com esta nova sonoridade, em que a banda abre espaço para músicas mais trabalhadas e não apenas rápidas. E no lançamento posterior, “Seasons in the Abyss“, eles chegariam ao ápice da carreira, dando sequência ao formato trabalhado aqui em “South of Heaven“.

Um fato curioso acerca deste disco é que Kerry King não ficou satisfeito com seu desempenho nas gravações: ele alegou em entrevistas que estava se sentindo estranho naquele período, pois havia acabado de se casar e estava residindo em Phoenix, no Arizona. Já seu parceiro Jeff Hanneman disse que este período foi o primeiro na carreira da banda em que todos os integrantes se reuniam para discutir o processo de composição.

E hoje é dia de celebrar o aniversário deste álbum importantíssimo não só na história da banda e sim do próprio Thrash Metal, em um ano emblemático para estilo, em que bandas como Megadeth, Metallica, Anthrax e Testament, por exemplo, lançaram excelentes discos e indispensáveis na discografia de qualquer headbanger, o Slayer deu o seu melhor e lançou o melhor disco daquele ano de 1988. Uma pena que a banda encerrou suas atividades, mas quem os viu em ação, como este que vos escreve, que teve a honra de testemunhar a banda proporcionar o moshpit mais insano já visto, no Rock in Rio de 2019, sabe como essa banda era letal ao vivo. Faz muita falta, mas seu legado está aí. Vamos dar play nessa bolacha e escutar no volume máximo.

South of Heaven – Slayer

Data de lançamento – 05/07/1988

Gravadora – Def Jam Recordings

 

Faixas:

01 – South of Heaven

02 – Silent Scream

03 – Live Undead

04 – Behind the Crooked Cross

05 – Mandatory Suicide

06 – Ghosts of War

07 – Read Between the Lies

08 – Cleanse the Soul

09 – Dissident Aggressor

10 – Spill the Blood

 

Formação:

Tom Araya – Baixo/Vocal

Kerry King – Guitarra

Jeff Hanneman – Guitarra

Dave Lombardo – Bateria