“Pandemic Blues,” o novo álbum da banda finlandesa Buko Shane, é um mergulho profundo nas águas do folk sad country. A banda é formada por Heikki Hänninen (vocal e guitarra), Ville Tolvanen (órgão elétrico), Philip Holm (baixo, bandolim e rabeca) e Joonas Anttila (bateria e percussão). Vindos de Helsinque, Buko Shane combina a sonoridade orgânica e experimentalismo, uma fórmula única que os destaca na cena musical.
Nesse lançamento, Buko Shane opta por uma abordagem mais acústica e minimalista, que contrasta com o som mais eletrificado que caracterizou seus trabalhos anteriores. “Pandemic Blues” é um álbum que reflete o espírito bucólico, trazendo as sensações e experiências vividas durante os anos de pandemia, traduzidas em composições introspectivas e repletas de profundidade. A banda utiliza predominantemente vocais, guitarras acústicas e um ou dois outros instrumentos em suas faixas, criando uma sonoridade mais íntima e focada.
Desde a primeira faixa, “Another Sunday Morning,” fica claro que Buko Shane decidiu abraçar uma sonoridade mais orgânica. O violão estabelece o tom com acordes suaves e uma melodia envolvente. Os vocais, carregados de emoção, adicionam uma camada de profundidade e dão à música uma sensação de estar ao ar livre, respirando o ar fresco de uma manhã tranquila.
Em “Long Winter” e “I Should Let You Go”, continuam os ritmos lentos e contemplativos. As texturas sonoras que remetem a paisagens da flora americana, um country calmo e pantanoso. Um ritmo que mantém o ouvinte imerso na atmosfera melancólica da música.
Em “Just Another Band”. Heikki Hänninen mostra sua veia Skynyrd, uma voz potente e imponente. Oferecendo um toque de nostalgia à faixa. Deveras vezes me peguei relembrando de American IV de Johnny Cash, a faixa tem o mesmo clima de contemplação divina. O resultado é uma música que parece evoluir em tempo real, com cada instrumento contribuindo para uma narrativa sonora única.
Em “See That My Grave Is Kept Clean,” a banda faz uma homenagem às suas raízes, incorporando elementos de blues e folk. Com uma melodia e sensação de urgência e emoção. A bateria de Joonas Anttila mantém o ritmo firme, enquanto os teclados e guitarra em slide adicionam camadas de complexidade ao arranjo.
“For Nick” carrega uma transformação, aqui os sintetizadores tomam de conta. Algo que pouco tinha aparecido nas faixas anteriores. A música evoca imagens de viagens e descobertas, transportando o ouvinte para lugares distantes. Diversas vezes me lembrei de Emerson Lake & Palmer e Allan Parson aqui, mas claro, que misturados ao som folk do grupo.
Em “My Old Companion,” a banda retorna a uma abordagem mais folk, com uma melodia simples e cativante. O bandolim de Philip adiciona um toque ainda mais progressivo à música, enquanto o som atmosférico cria um pano de fundo sonoro que é ao mesmo tempo familiar e novo. Heikki Hänninen canta com uma sinceridade que é comovente, tornando esta faixa um dos pontos altos do álbum.
“The Ride” é uma música que traz novamente o progressivo psicodélico à tona, com uma linha que é ao mesmo tempo energética e melódica, começa lenta e misteriosa. A faixa lembra uma extensão de Dark Side of the Moon, e explode em uma massa sonora que é o ápice lisérgico da canção.
“Static Laziness” mantém o experimental, a esta altura o folk country foi já quase completamente deixado de lado e deu lugar ao Jazz, Blues R&B típico da referência do parágrafo anterior, com uma estrutura rítmica complexa e solos de saxofone que exploram novas sonoridades. A banda demonstra sua habilidade de improvisação, criando uma música que é ao mesmo tempo desafiadora e acessível.
“California (In My Dreams Again)” é uma faixa que volta ao folk estradeiro. O violão de Heikki Hänninen é o destaque, com acordes dedilhados e rápidos que lembram as cantigas do folk americano. Os vocais criam uma sensação de espaço e liberdade, enquanto apreciamos tudo com os olhos fechados para aumentar ainda mais nossa imersão.
O álbum se encerra com “Son My Sun,” uma música que encerra o álbum de forma magistral. Com uma melodia simples e uma letra introspectiva, a faixa é uma reflexão sobre os tempos difíceis e as esperanças para o futuro. A faixa é praticamente uma a capela com elementos atmosféricos e um crescendo que, assim como em The Ride, cresce em uma massa sonora, que tem de sintetizadores, violoncelos, trompetes e saxofone. A faixa é como um hino fúnebre que marca o fim de uma belíssima obra.
Em “Pandemic Blues,” o álbum é uma mistura perfeita de influências e estilos, criando uma experiência sonora que é ao mesmo tempo familiar e surpreendente. Com este álbum, a banda atesta sua alta qualidade, e com certeza se põe no panteão dos grandes nomes da atualidade.