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Empoderamento punk: Bikini Kill desafia as normas e mostra que as mulheres estão no front!

Empoderamento punk: Bikini Kill desafia as normas e mostra que as mulheres estão no front!

16 de março de 2024


Crédito das fotos: Mila Maluhy

São Paulo, 14 de março de 2024, às 20h, numa quinta-feira fervente e caótica, mas pronta para receber na Audio, na zona oeste da cidade, uma das bandas mais impactantes do cenário punk e, claro, o principal nome do movimento Riot Grrrl: Bikini Kill.

Mas não foi só Bikini Kill que marcou presença nesse evento. Além delas, tivemos Weedra, Punho de Mahim e Sandra Coutinho liderando as incansáveis Mercenárias. E não podemos esquecer das DJs Camilla Jaded e Erikat, queridinhas na cena paulistana.

Cheguei no finalzinho da última música de Punho de Mahim. Peço desculpas pelo atraso, mas foi difícil cruzar a cidade a tempo de curtir todas as atrações. Prometo que no próximo show estarei lá para contar tudo aqui no HBN.

Às 20h30, as Mercenárias subiram ao palco para arrasar, com uma postura impecável. É incrível ver Sandra Coutinho liderando esse grupo de mulheres talentosas que entregam tudo, na hora certa e com a urgência necessária.

Só achei que as vozes estavam meio sumidas atrás dos instrumentos. Estavam baixinhas, e para quem estava vendo a banda pela primeira vez, seria difícil entender o que estavam cantando. Mas fora isso, tudo lindo!

O clima estava ótimo. A Audio estava com o ar condicionado na medida certa (sim, a casa tem um ar condicionado potente até em dias de frio) e com uma lotação boa, ao contrário da loucura que foi o primeiro show, onde os ingressos esgotaram.

Surpreendentemente, a presença masculina na casa era minoria e as mulheres dominavam o espaço. As minas estavam realmente no front. Uma cena rara em eventos musicais e culturais em geral.

Às 22h em ponto, Kathleen Hanna (vocal), Kathi Wilcox (baixo) e Tobi Vail (bateria), acompanhadas por Sara Landeau, guitarrista de apoio na turnê sul-americana, trouxeram o Bikini Kill ao palco para incendiar o ambiente, marcando o momento mais esperado da noite.

Kathleen Hanna, deslumbrante em um vestido “godê”, estava completamente à vontade para viver aquele momento, ao lado de tantas mulheres e membros da comunidade LGBTQIA+ presentes, na linha de frente do palco. Elas realmente dominavam a cena, enquanto os homens ficavam lá atrás na plateia, como deveria ser.

“Double Dare Ya” foi a música escolhida para abrir o show. Com o som perfeitamente equalizado, a casa toda tremia. Sim, até a mesa de som lá no fundo, onde estava encostado, tremia de verdade!

Sem perder tempo, logo em seguida emendaram “New Radio” e “Jigsaw Youth”, onde aconteceu algo engraçado que vou contar: Kathleen errou a letra e, de maneira descontraída, colocou a culpa na plateia, brincando que elas também erraram a parte e ela se deixou levar. Depois das risadas, recomeçaram a música, que, segundo ela mesma, é uma de suas favoritas. No final, a canção saiu exatamente como esperávamos, Kathleen Hanna dançou e tudo foi uma festa só!

Houve momentos em que as integrantes se revezaram entre os instrumentos, com a baterista Tobi Vail assumindo os microfones. O nível de energia permaneceu alto, com toda a fúria em destaque. Foi uma verdadeira festa!

O roteiro do show passou por todas as principais músicas da discografia da banda, embora tenha sido um pouco mais curto se comparado à primeira noite, que durou aproximadamente 1h30.

Mesmo assim, tivemos a oportunidade de ouvir “Don’t Need You”, com pequenas rodas de fãs se formando ali e acolá, enquanto Kathleen expressava sua gratidão por estar em solo brasileiro pela primeira vez.

Pudemos viver a energia de canções como “This Is Not a Test”, “Don’t Need You”, “I Hate Danger”, que eu adoro. E repetir aos berros “I stopped talking an hour ago, I stopped talking an hour ago, I stopped talking an hour ago”, foi ótimo!

O show seguiu com pouquíssimas pausas, até que emendaram as fervorosas “Carnival” e “Resist Psychic Death”. No final, Kathleen começou a conversar com alguém, apontando para algo que não consegui identificar por conta da distância. As pessoas ao meu lado chegaram à conclusão de que era uma conversa sobre uma doença chamada Lyme, que ela tinha ou poderia ter.

Após “I Like Fucking”, finalmente consegui encontrar um momento para respirar e absorver a magia do evento ao qual estava vivenciando, enquanto a banda tocava “Outta Me” e “For Only”, durante o ponto mais “calminho da noite”.

Recuperando o fôlego, meus olhos se alternavam entre o palco e o público durante “Reject All American”, “Distinct Complicity” e “Demi Rep”, mas foi quando os primeiros acordes de “Alien She” e a poderosa “No Backrub” ecoaram que as rodinhas se abriram novamente no fundo.

À medida que o show chegava ao fim, ainda fomos presenteados com as maravilhosas “Rah! Rah! Replica”, “Tell Me So” e “Suck My Left One”, uma das minhas favoritas e que ao vivo foi simplesmente avassaladora!

E quando parecia que a banda estava se despedindo pra valer, fomos presenteados com o bis solitário daquela que é o hino supremo dessas mulheres guerreiras, “Rebel Girl”. Como poderia faltar, não é mesmo?

Foi incrível testemunhar tantas mãos erguidas e corpos vibrantes, entoando as músicas com uma liberdade que o mundo machista tantas vezes tenta sufocar, exceto naquele espaço, onde o direito à expressão é exclusivamente delas.

Parabéns à Associação Cultural Cecília e à Daterra Produções pela coragem de realizar um evento tão impactante na vida de tantas pessoas. Obrigado!

Galeria do show