Memory Remains

Memory Remains: Sepultura – 35 anos de “Beneath The Remains” e a estreia fora do Brasil

7 de abril de 2024


O Sepultura, que está em sua turnê derradeira, chamada “Celebrate Life Through Death”, comemora hoje os 35 anos de “Beneath The Remains“, o terceiro álbum da maior banda brasileira de Metal de todos os tempos e o primeiro a ser lançado fora do país. Lançado em 6 de abril de 1989, essa pérola da nossa música pesada é tema do nosso Memory Remains deste domingo.

Precisamos voltar um pouco no tempo para poder entender o contexto que resultou na gravação de “Beneath the Remains“: Max Cavalera conta em sua autobiografia, “My Bloody Roots“, que viajou para os Estados Unidos em 1988, tendo em mãos algumas cópias do “Schizophrenia“, segundo álbum da banda e que já contava com Andreas Kissser na guitarra. A entrada do “alemão” já deu uma tremenda encorpada na banda e o disco foi um sucesso tão grande que, mesmo tendo sido lançado exclusivamente no Brasil, ele fora pirateado por todo o mundo e as pessoas já sabiam que no Brasil não havia apenas Tom Jobim, Chico Buarque, samba, praia e futebol: havia uma banda despontando no cenário.

A viagem de Max fora bem sucedida e resultou em um contrato com a Roadrunner, que foi bem longevo. Ainda em 1988, ficou decidido que a banda gravaria o álbum no Rio de Janeiro, no estúdio “Nas Nuvens“. A banda mais tarde falaria que a decisão em gravar ali é que foi o mesmo estúdio em que o Titãs gravaram o emblemático álbum “Cabeça Dinossauro” três anos antes e o Sepultura havia sido a banda de abertura da banda paulistana anos antes, em Belo Horizonte, tendo iniciado uma amizade entre seus membros. Além disso, o referido álbum impressionou muito aos integrantes do Sepultura que resolveram gravar o aniversariante do dia no mesmo local. Em “Chaos A.D.“, o Titãs foi homenageado com o cover para “Polícia“, que era obrigatoriamente executada ao vivo nos tempos de Max Cavalera.

O então desconhecido Scott Burns fora enviado ao Rio de Janeiro para produzir o álbum, e, embora o cara tenha tido uma péssima impressão de nosso país, uma vez que fora vítima de furto no próprio quarto do hotel em que ele e a banda estavam hospedados na capital fluminense, o cara não se abalou e fez um excelente trabalho. Max ainda conta em seu livro uma curiosidade, em que o produtor da banda seria Jeff Waters, do Annihilator. Porém, este não se mostrou disposto a vir ao Brasil e a banda não dispunha de recursos para viajar até o Canadá.

Escolhido o produtor, a banda se reuniu para registrar o seu debut por uma gravadora multinacional. E o resultado foi nada menos do que espetacular. A banda se mostrava ainda melhor do que no álbum anterior e o Thrash Metal oitentista se mostrava bem latente por aqui, comprovando que a banda começava a escalada rumo ao ápice, que viria sete anos depois, em proporções mundiais.

O play é curto e grosso: 9 pedradas em forma de música em apenas 42 minutos. Um álbum sem uma música ruim sequer. Missão difícil é escolher a melhor, entre tantos bons momentos como “Slaves of Pain” (que a formação mais recente da banda se “atreveu” a tocar em um show em 2022), “Primitiva Future“, “Stronger Than Hate“, mas o tempo tratou de colocar a faixa-título, “Inner Self” e “Mass Hypnosis” como clássicas eternas do Sepultura.

Esse play é tão importante, que é citado, por exemplo, no encarte do debut álbum do Cannibal Corpse, “Eaten Back to Life“, em que a banda afirma ter sido o “Beneath the Remains” uma influência lá nos primórdios daqueles que hoje são os reis do Death Metal. Na época, o álbum chegou a ser comparado com a grande obra do Slayer, “Reign in Blood“, lançada em 1986. Alguns podem até achar essa comparação exagerada, mas o Sepultura estava com sangue nos olhos e fazendo um som muito rápido, que seria ainda melhor aprimorado em “Arise“, o sucessor. Recentemente, os irmãos Max e Iggor Cavalera fizeram uma turnê onde tocaram “Beneath The Remains“, para delírio da galera que não curte a fase mais Groove que a banda resolveu encarar nos anos 1990.

Algumas curiosidades deste “Beneath the Remains“: foi aqui o primeiro registro oficial do baixista Paulo Junior. Foi ele quem gravou aquele trecho final da música “Stronger Than Hate“. Max e Andreas gravavam as partes de baixo, que só passaram a ser gravadas pelo titular do posto a partir do álbum “Chaos A.D.“. Nessa época, a pronúncia era um pequeno problema que a banda, em especial, Max Cavalera, enfrentava, então, eles contaram com a ajuda do pessoal do Obituary que os ajudou a aprimorar a língua que domina o Rock e o Metal, inclusive, John Tardy, vocalista do Obituary, fez backing vocal no álbum. A música “Slaves of Pain” é na verdade, um cover da antiga banda de Andreas Kisser, o Pestilence, sendo que eles trocaram a letra.

Em 1989, o álbum chegou a figurar nas paradas britânicas, na categoria Indie (??), quando ficou na 9ª posição. Mais recentemente, em 2020, o play foi relançado em uma versão deluxe e com um CD bônus, que incluem versões para faixas que fazem parte do álbum, além de músicas ao vivo e alcançou a posição de número 3 na Croácia, a 22ª posição na Hungria e a 96ª na Alemanha. É considerado o melhor álbum do Sepultura por muitos fãs. Se não há unanimidade sobre este ser o melhor, não restam dúvidas de que é um clássico atemporal. E com o selo de Made in Brazil.

E a partir daqui, a banda só tenderia a crescer. Após o lançamento do álbum, vieram turnês mundo afora, incluindo a famosa tour em que houve a treta dos brasileiros com os alemães do Sodom. Assim como “Schizophrenia“, que marcava a estreia de Andreas Kisser na banda, havia sido um marco, “Beneath the Remains” era outro marco.

Era uma banda brasileira aparecendo para o mundo e isso é digno de orgulho, pois se portas foram abertas no exterior para que Viper, Angra, Krisiun, Claustrofobia, Torture Squad, entre tantos outros pudessem adentrá-las, tudo foi porque esses garotos se meteram a fazer Heavy Metal em uma terra em que na época o som que dava dinheiro era o de artistas de gosto duvidoso. Então vamos celebrar os 35 anos muitíssimo bem vividos deste disco, que, na opinião deste redator que vos escreve, faz parte do que eu costumo chamar de quadrado mágico, que começou lá no já longínquo ano de 1989 e terminaria em 1996, com o lançamento de “Roots“, que mostrava uma nova forma de se fazer Metal, incluindo músicas do país natal dos caras, o que é inimitável e único. O Sepultura está para encerrar as atividades. Se vai retornar no futuro com ou sem a formação clássica, não sabemos, mas devemos comemorar mais um ano desse tesouro.

Beneath the Remains – Sepultura

Data de lançamento: 07/04/1989

Gravadora: Roadrunner

 

Faixas:

01 – Beneath the Remains

02 – Inner Self

03 – Stronger Than Hate

04 – Mass Hypnosis

05 – Sarcastic Existence

06 – Slaves of Pain

07 – Lobotomy

08 – Hungry

09 – Primitive Future

 

Formação:

Max Cavalera – vocal/Guitarra

Igor Cavalera – bateria

Andreas Kisser – guitarra

Paulo Jr. – baixo (???)

 

Participações especiais:

Henrique – teclado

John Tardy – backing vocal

Kelly Shaefer – backing vocal

Scott Latour – backing vocal

Francis Howard – backing vocal