Memory Remains

Memory Remains: Sepultura – 35 anos de “Schizophrenia”, a estreia de Andreas Kisser e o estouro fora do Brasil

Memory Remains: Sepultura – 35 anos de “Schizophrenia”, a estreia de Andreas Kisser e o estouro fora do Brasil

30 de outubro de 2022


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Em 30 de outubro de 1987, era lançado o álbum “Schizophrenia“, o segundo “full-lenght” do Sepultura. E aqui a maior banda brasileira de Heavy Metal da história começava a trilhar o seu caminho, rumo ao título que hoje ela possui. Esse discaço é assunto do nosso Memory Remains deste domingo.

E esse disco é um marco, podemos dizer que há um (dos vários) divisor de águas da banda. Creditamos isso à entrada de um sujeito até então desconhecido, mas que se tornaria uma autoridade nas seis cordas aqui no Brasil: Andreas Kisser, o alemão, que ocupou o lugar de Jairo Guedz. E embora Max Cavalera seja até hoje um “riffmaster“, foi a entrada de Andreas que deu à banda um outro status. Andreas certa vez falou sobre o que ele estava agregando quando entrou no Sepultura. Aspas para ele:

“Eu trouxe algumas novas influências – heavy metal tradicional e um estilo mais melódico. Foi um encontro imediato de mentes. Nós entendemos de onde cada um estava vindo musicalmente e sabíamos que poderíamos encontrar uma maneira de juntar todas as nossas influências e fazer a música funcionar.”

É importante salientar que Jairo ficou na banda até o final do processo de composição de “Schizophrenia“. Cerca de 95% das músicas já estavam prontas quando ele tomou a decisão de deixar seus companheiros de Sepultura. Ele conta que chegou nos irmãos Cavalera e anunciou sua decisão e que todos choraram. Ele ainda acompanhou a banda depois da entrada de Andreas Kisser, até para orientar o novato. Hoje, Jairo tem boa relação tanto com os irmãos quanto com os outros dois membros atuais, o próprio Andreas Kisser e Paulo Xisto.

As composições ganharam e muito em qualidade. A banda ainda se mostra bem crua aqui em “Schizophrenia“, porém, há um ganho, um punch. A banda abandonou o Death Metal por vezes cru e tosco de “Morbid Visions” (Não estou desmerecendo o primeiro disco da banda, ele tem seu valor, mas é muito imaturo e provavelmente a banda não iria muito longe se mantivesse aquela linha, ainda que há os radicais que afirmam que a banda “acabou” por não ter lançado um novo “Morbid Visions“).

Gravado no estúdio JG em Belo Horizonte no mês de agosto de 1987, com produção de Tarso Senra e do próprio Sepultura, o álbum foi lançado pela Cogumelo Records. A curiosidade é que este LP, na época fora pirateado no exterior e isso ajudou a banda a ganhar notoriedade e também, a assinar com a “Roadrunner“, que foi parceira da banda por longo tempo. Anos depois o selo relançaria este disco, contendo a faixa “Troops of Doom“, que fora melhor trabalhada e com a mão de Andreas Kisser, ela ganhou muito mais poderio. É a única música desta época que de vez em quando ainda é tocada ao vivo pela formação atual, que renega demais a fase antiga.

Vamos colocar a bolacha para rolar e conferir cada uma das nove faixas presentes aqui. O álbum começa com a intro que traz um pedaço da ópera “Carmina Burana” e dura alguns segundos. Logo logo vem o que nos interessa de verdade: “From The Past Come Storms” é uma música bem interessante, tipicamente Thrash Metal oitentista, muito boa!

Em “To The Wall” já se percebe o quão Andreas Kisser se destacaria. Aqui tanto nas bases junto com Max, quanto nos solos bem estruturados e bem trabalhados, o cara faz um excelente trampo. Sem falar nas mudanças de andamento bem interessantes que esta música nos proporciona. A letra é explicada no livro autobiográfico “My Bloody Roots“, de Max Cavalera, em que a banda certa vez foi abordada por policiais e presa pelo fato de eles andarem seus respectivos documentos de identificação. Excelente música.

Escape to the Void” foi a primeira música que escutei deste álbum, e foi ao vivo. Nos tempos em que a banda tocava ainda músicas desta época. Lembro me que vi um show da banda em novembro de 1996, com a formação clássica e eles fizeram um medley, que tinha “Beneath The Remains” emendada com a própria “Escape to the Void“. E essa música, que depois fui buscar a versão contida aqui é fantástica, com um início mais arrastado e depois a quebradeira toma conta de tudo. A melhor música do disco temos aqui. A curiosidade é que esta é uma versão de uma música da antiga banda de Andreas Kisser, o Pestilence. A música em questão se chama “Escape to The Mirror” e o título e letra foram alterados.

Inquisition Symphony” e seus sete minutos é um excelente instrumental, ótima para se entrar num mosh e esquecer da vida por lá. Bons tempos…

Se você está no LP, é hora de virar o lado do bolachão e dar sequência ao play, com “Screams Behind The Shadows“, em que a banda apresenta algo do que seria apresentado no disco posterior, “Beneath The Remains”. Uma música bem interessante e mostra já a maturidade que a banda viria a alcançar plenamente anos depois.

Septic Schizo” dá sequência à esta maravilha, com uma introdução um tanto quanto longa, mas aqui temos uma das influências que Max sempre citou: nas partes rápidas, as lembranças do o Kreator aparecem aqui.

A instrumental “The Abyss” com seu pouco mais de um minuto já nos avisa que a obra está no final. Aqui Andreas pede um espaço para mostrar seu talento no violão. E temos “R.I.P. (Rest In Pain)” encerrando bem a obra. Música rápida, raivosa, com quebras de ritmo no meio. Muito boa!

O inglês de Max Cavalera ainda era bem ruim, mas isso não afeta de alguma a qualidade do disco. Ele melhoraria esta pronúncia somente anos mais tarde, no “Chaos A.D.” E baixo aqui, foi gravado por Andreas Kisser , já que Paulo Jr. só passou a registrar suas partes também a partir do já citadi “Chaos A.D.”  Só lamentamos o fato de a formação atual, cada vez mais distante do passado, não tocar mais nenhuma música deste disco ao vivo.

Enfim, um disco ainda cru, com a produção longe de ser a ideal, mas foi aqui que a banda buscou seu reconhecimento fora do país, ficariam mais conhecidos lá do que aqui e hoje são os artistas brasileiros mais conhecidos no exterior. Antes disso tudo acontecer, a banda faria aquela famosa turnê com o Sodom, onde a banda brasileira impressionaria mais que os alemães, mais experientes que os “jungle boys”. Depois eles assinariam com a “Roadrunner“, gravariam ainda no Brasil o clássico “Beneath The Remains“… Mas isso é assunto a ser contado em outra oportunidade. Celebraremos este excelente registro, que envelhece melhor cada vez mais! Já são 35 anos, logo logo entra no seleto grupo dos 40. Esse disco bem que merecia uma turnê comemorativa, por parte dos irmãos Cavaleras, já que o Sepultura atual parece odiar o passado que lhe deu a fama que hoje tem.

Schizophrenia – Sepultura

Data de lançamento – 30/10/1987

Gravadora – Cogumelo

 

Faixas:

01 – Intro

02 – From The Past Comes Storms

03 – To The Wall

04 – Escape To The Void

05 – Inquisition Symphony (instrumental)

06 – Screams Behind The Shadows

07 – Septic Schizo

08 – The Abyss (instrumental)

09 – R.I.P. (Rest In Peace)

10 – Troops Of Doom (Bônus track)

 

Formação:

Max Cavalera – Vocais/ Guitarra base

Igor Cavalera – Bateria

Andreas Kisser – Guitarra base e solo

Paulo Jr. – Baixo (creditado mas não tocou)