Crédito das fotos: Flávio Santigo/OnStage

Existe uma coisa que me agrada demais em morar em São Paulo: a pluralidade implícita em tudo nessa cidade.
Sexta-feira chuvosa em São Paulo, uma virada de tempo que alagou as principais vias de acesso da cidade em pleno horário de rush. Na minha cabeça começou a martelar um mantra: “numa chuva dessas, muita gente vai ficar em casa.”

Cheguei na Burning House, no bairro da Barra Funda, às 19h. Com muita sorte, achei um lugar perto da casa para estacionar e já segui para ver todas as bandas da noite.
A Burning House é uma casa que eu realmente gosto — você se sente próximo da banda em qualquer ponto que estiver durante o show.

Pontualmente às 19h30 começou o show da galera do Odeon, diretamente do Rio de Janeiro.
Nas palavras do vocalista Marcelo Braga, a proposta de misturar rock, funk, trap, metal e tudo mais tomou forma no palco para um público de pouco mais de 50 pessoas.
O “Bailão da Odeon” passa muito pela pluralidade que eu comentei que gosto, e mesmo não sendo o tipo de som que me conecta, a banda foi extremamente fiel ao que se propôs a fazer.
De metal dançante a breakdowns performáticos, com músicas em inglês e em português, a banda viu a casa se encher, agora que o caos gerado pela chuva já estava mais apaziguado.
Não posso deixar de destacar a participação especial do baterista Leto Ferreira, acostumado a comandar os tambores e pratos na consagrada banda de metalcore Glória.
Após pouco mais de meia hora de apresentação do Odeon, Lucas Moscardini e João Diegues — responsáveis pelas cordas da banda — desceram do palco com a intenção de animar o público presente, gerando uma ciranda em volta deles enquanto a banda se despedia do rolê.

Rapidamente, às 20h20, começou o show do Worst. Mais próximo do som da banda principal da noite, o Worst entrega seu hardcore seco, agressivo e “sem dó de porra nenhuma”.
Com um público ainda tímido no mosh, o quarteto paulista — que será atração no Lollapalooza 2026 — tocou seus hits com muita interação da galera que se exprimia para dividir o microfone com Thiago Monstrinho, líder da banda.
A banda avisou que o novo baterista, Bruno Santin, havia passado por apenas dois ensaios antes do show — o que não pareceu, dada a entrega do músico, que ainda se divide nas excelentes bandas Endrah e Lockdown.

Foi por volta das 21h10 que os Ladrones tomaram, literalmente, a cena de assalto na Burning House.
Os mexicanos, que não estavam no meu radar, tocaram para a casa extremamente cheia, com um público ensandecido e totalmente conectado.
A introdução dos ticanos me fez soltar aquele arzinho pelo nariz antes de sorrir: uma mixagem da música de abertura do seriado Chaves.
Após o primeiro “¡Arriba la Elle!” gritado pelo vocalista Zamyr, a casa explodiu enquanto o Ladrones fazia parecer fácil mesclar a rica música latina com a agressividade do metal.
A salsa, o merengue e a cumbia pareciam ter sido criadas para se misturar ao rapcore e ao metal, tamanha a facilidade da banda em transitar por tantos gêneros.
Com um show bem extenso, a banda me fez levantar para ver um cover de “Roots Bloody Roots”, da mais imponente banda brasileira da história do metal.

Com a última música sendo apresentada com a banda junto da galera, no meio da roda, o Ladrones me fez sentir o único ser humano do planeta que não conhecia o som deles.
Enquanto o Death Before Dishonor afinava seus instrumentos, os mexicanos ainda atendiam os fãs com fotos, abraços e muita risada compartilhada.

Às 22h35 começaram as atividades dos americanos do Death Before Dishonor.
Confesso que me chocou ver a casa com metade do público que presenciou o Ladrones.
Mas o hardcore mostra que sua força está sempre viva — ainda mais depois de Bryan Harris afirmar que o DBD é uma banda de “real hardcore” e convidar o público a se aproximar do palco.
Foi uma entrega intensa de energia da banda, que não se importou com a quantidade de público presente — e este rapidamente respondeu com stage dives, sing alongs e muito moshpit.

Senti, durante todo o show, a tal da pluralidade que me fascina: Odeon fazendo suas experiências musicais, Ladrones misturando a latinidade com o rap e o metal, e os veteranos do Death Before Dishonor mostrando que o hardcore é um local de respeito e com espaço para todos.
Achei muito audaciosa — e feliz — a proposta da NDP (New Direction Productions) em mesclar tanto nesse setlist. Mais uma ótima noite entregue pela produtora.

Galeria do show