Memory Remains

Memory Remains: Nailbomb – 30 anos de “Point Blank” e os ciúmes dos integrantes do Sepultura

8 de março de 2024


O Memory Remains desta sexta-feira, dia internacional da Mulher vai tratar do mais novo trintão do Heavy Metal. Estamos falando de “Point Blank“, o primeiro e único álbum de estúdio do Nailbomb, projeto encabeçado por Max Cavalera e seu parceiro, o britânico Alex Newport, que nasceu quase que por um acidente, cujo álbum foi lançado em 8 de abril de 1994. Fique conosco que iremos lhe contar um pouco das histórias deste álbum.

Ao final de 1993, colhebdo todos os frutos do álbum “Chaos A.D.“. Durante a perna europeia da turnê, mais precisamente no Reino Unido, O Sepultura teve como banda de abertura o Fudge Tunnel, de seu futuro parceiro, Alex Newport, que naquele momento, começou a namorar com Christina, filha de Glória e enteada de Max. Logo o casal passou a viver em Phoenix, próximo da casa dos Cavaleras e o contato ficou mais próximo.

Em algum momento de pausa na turnê, Max e Alex Newport começaram a conversar sobre música e Max contou que pediu a Newport que lhe mostrasse como ele tocava os riffs do álbum “Hate Songs in E Minor“, álbum do Fudge Tunnel lançado em 1991. Newport, por sua vez, pediu que Max lhe mostrasse como eram tocados os riffs rápidos de Thrash Metal, gravados em “Arise“. E assim, eles começavam a fazer jams, mas sem a intenção de montar uma banda. Max contou, em entrevista para a Revolvermag, que a ideia de lançar um álbum foi de Glória. Vamos abrir as aspas para o que disse o vocalista/guitarrista:

Eu acabei de pegar um monte de riffs que eu tinha escrito e que não iam a lugar nenhum já que o Sepultura já tinha feito o Chaos AD. E então ele me mostrou alguns riffs muito legais. Ele me disse que todas as músicas do Fudge Tunnel eram riffs do Black Sabbath tocados ao contrário ou mais lentos, o que eu achei uma loucura. Continuamos tocando e inventamos algumas coisas novas, e então Gloria entrou na sala e começou a nos ouvir. Ela disse: “Vou fazer uma banda com vocês”, e nós rimos e dissemos: “Ah, de jeito nenhum. Estamos apenas brincando”. E ela disse: “Não, sério, isso é realmente bom. Posso conseguir para vocês um contrato de gravação com a Roadrunner. Vocês precisam gravar um disco.” E basicamente foi isso. Estávamos apenas matando o tempo e foi ideia da Gloria fazermos um álbum.”

O Nailbomb é uma verdadeira salada musical, onde as vertentes variam entre o Industrial (predominantemente), mas tem algo de Crossover, Thrash e até mesmo Punk Rock. Tudo com muito samples. Na mesma entrevista para a Revolvermag, Max conta que na introdução da música “Wasting Away“, há samples que misturam Sonic Youth com o baixo de Lemmy Kilmister. Da mesma forma que a faixa “Guerrilas” conta com samples da música “Procreation (Of the Wicked)”, do Celtic Frost, que, inclusive, o Sepultura gravou uma versão e entrou como bônus track na edição nacional do álbum “Roots“. E também havia samples da última aparição na TV de GG Alin, em “For Fuck’s Sake“. Uma loucura só. E que deu muito certo.

De contrato assinado com a Roadrunner, eles começaram a gravar o material a entrar no álbum. Grande parte das músicas foi gravada na casa de Max, mas eles também utilizaram os estúdios Chaton Studios e o Catholic Bedroom, ambos no Arizona. Max conta que alguns sons gravados são de uma máquina de lavar velha que Glória tinha e que não mais utilizava, então eles tiveram a ideia de socar a coitada da máquina com tacos de basebol. E também pegaram um Camaro, que Max diz ter acelerado a mais de 100km/h e freava buscamente, enquanto Newport gravava os barulhos e cuidava da produção e mixagem.

O álbum conta com alguns convidados: Igor Cavalera e Andreas Kisser, então companheiros de Max no Sepultura. Igor tocou em seis canções, enquanto que as outras músicas foram gravadas por bateria eletrônica, programadas por Alex Newport. Andreas fez o solo em três músicas (“Vá Tomar no Cú“, “World of Shit” e “Religious Cancer“); Dino Cazares tocou guitarra em “24 Hours Bullshit” e Ritchie Cavalera, enteado de Max, então uma criança, fez alguns barulhos na guitarra que eles incluíram no produto final.

Entretanto, apesar das participações de Andreas e Igor, Max conta em sua autobiografia “My Bloody Roots“, que os dois ficaram enciumados. De acordo com o próprio relato de Max, os dois entendiam que alguns riffs poderiam ser utilizados pelo Sepultura. Acabou que nem precisou, mesmo. Tanto o Nailbomb, quanto o Sepultura em “Roots“, o trabalho de Max que veio depois do aniversariante do dia, foram fantásticos. Talvez as tensões que tiveram o pico lá em dezembro de 1996, quando os três membros do Sepultura se reuniram com Max, dizendo que o contrato com Glória não seria renovado, fazendo com que ele saísse do Sepultura em solidariedade à sua companheira, já aconteciam aqui e não eram perceptíveis para nós, que estamos de fora.

Sobre a capa, uma curiosidade: Max pegou a foto de uma mulher vietnamita com uma arma de fogo apontada na sua cabeça. Nos dias de hoje, com toda essa violência, principalmente aqui em terras brasileiras, onde policial militar atira em um entregador de aplicativo porque este pobre não quis subir para entregar o pedido da “realeza” (N. do R: ele não é obrigado a subir e só mostra o quão elitista é nosso país, o bolsonarismo ainda forte é uma evidência bastante clara disso), talvez rendesse críticas ou até mesmo, o cancelamento da banda. Mas à época, a ideia era chocar e Max escolheu essa foto, que, ao contrário do que muitos pensam, a mulher não foi executada.

Bolacha rolando, temos 13 canções em 62 minutos, sendo que a última faixa, “Sick Life“, apesar dos 17 minutos de extensão, tem pouco mais de seis minutos, com dez minutos de silêncio, para voltar com mais samples, desta vez dos riffs de “Dead Embryonic Cells“. Temos vários bons momentos por aqui, como mas músicas “Wasting Away“, “Vá Tomá no Cú“, “24 Hours Bullshit“, “Blind and Lost“, “For Fuck’s Sake“, “Religious Cancer” e o cover para “Explotation“, do Doom, cuja letra Max mudou a letra, porque, segundo ele, “estava muito bêbado na hora de gravar o vocal” e Alex Newport o colocou na sala para gravar o vocal e ele cantou o que lhe veio à cabeça. Apesar de extremamente experimental, é um ótimo álbum. E moderno para a época.

O projeto não durou muito mais que um ano e eles fizeram apenas dois shows, o mais conhecido deles no Dynamo Open Air, famoso festival de música pesada dos anos 1990, realizado nos Países Baixos e cuja apresentação foi registrada e virou o álbum ao vivo “Proud to Commit Commercial Suicide“, que foi a frase que Monte Conner falou para Max quando ouviu sua ideia de fazer um álbum do Sepultura com a participação de uma tribo indígena. Dois dos vídeos que colocamos aqui neste texto são do referido show. Max disse que Alex Newport não gostava de tocar ao vivo e também não gostava do barulho do público. Max lhe deu o apelido de Mr. Hate (Senhor Ódio) por ele odiar quase tudo.

A banda poderia ter tido mais tempo de vida, mas somente os que tem mais de 40 anos teve a oportunidade de conhecer e acompanhar em tempo real. Em 2017, Max Cavalera fez uma turnê com o Soulfly, tocando o novo trintão na íntegra, inclusive na mesma ordem do álbum e com a benção de Alex Newport, que não participou. Hoje é dia de celebrarmos este belo álbum, colocando para escutar no volume máximo.

Point Blank – Nailbomb

Data de lançamento – 08/03/1994

Gravadora – Roadrunner

 

Faixas:

01 – Wasting Away

02 – Vá Toma no Cú

03 – 24 Hour Bullshit

04 – Guerrillas

05 – Blind and Lost

06 – Sum of Your Achievements

07 – Cockroaches

08 – For Fuck’s Sake 

09 – World of Shit 

10 – Exploitation

11 – Religious Cancer

12 – Shit Piñata

13 – Sick Life

 

Formação:

Max Cavalera – vocal/ guitarra

Alex Newport – vocal/ guitarra/ baixo/ samples

 

Participações especiais:

Igor Cavalera – bateria em “Wasting Away“, “Blind and Lost“, “Cockroaches“, “Explotation“, “Shit Pinata” e “Sick Life

Andreas Kisser – guitarra solo em Vai “Toma no Cú”, “World of Shit” e “Religious Cancer”

Dino Cazares – guitarra em “24 Hours Bullshit”

Ritchie Cavalera – guitarra (noise)