Memory Remains

Memory Remains: Sepultura – 36 anos de “Morbid Visions”, a tosquice que deu vida a maior banda brasileira de Metal

Memory Remains: Sepultura – 36 anos de “Morbid Visions”, a tosquice que deu vida a maior banda brasileira de Metal

10 de novembro de 2022


Se no último dia 30, o Sepultura comemorou os 35 anos de “Schizophrenia“, e se você perdeu, poderá ler a matéria clicando AQUI, agora é a vez de “Morbid Visions“, o álbum de número um da banda, que chega aos 36 anos e é tema do nosso Memory Remains desta quinta-feira.

Embora seja o primeiro disco de estúdio do grupo, não se trata do primeiro lançamento, pois um ano antes, a Cogumelo havia lançado um split LP, onde no lado A tínhamos o grandioso Overdose com o seu “Século XX” e no lado B o Sepultura com “Bestial Devastation“. O contrato com a Cogumelo veio depois da participação da banda em um festival na capital mineira. Anos mais tarde, a Roadrunner relançaria o aniversariante do dia, tendo este EP como bônus.

Na época do disco dividido, havia uma rixa muito grande entre os fãs de ambas as bandas. Cada lado da capa tinha a arte de uma das bandas e reza a lenda que os fãs do Sepultura rabiscavam a capa do Overdose e vice-versa. Hoje em dia quem tem esse LP não vende por dinheiro nenhum. E olha que hoje em dia este item custa bem caro. Uma breve pesquisa no site discogs, o disco custa entre R$ 575,00 e R$ 1.600,00.

O Sepultura já estava emergindo como uma banda promissora da cena prolifera de Belo Horizonte. Haviam também nomes como o Chakal e o Sarcófago, essa formada pelo hoje bolsomínion Wagner Lamounier, que havia sido o primeiro vocalista do Sepultura, e expulso por Max Cavalera, segundo o próprio Max conta em sua biografia “My Bloody Roots“, “por furtar equipamentos do Sepultura”.

A banda foi então para o estúdio Vice Versa, em Belo Horizonte, durante o mês de agosto daquele 1986, onde gravaram as oito faixas que compõem o play. A própria banda fez a produção, o que explica a qualidade tão baixa. Afinal, os irmãos Cavaleras eram apenas adolescentes e Jairo, o mais velho do grupo, tinha apenas 18 anos. Max relembra que o técnico de som do estúdio não tinha intimidade com o som que a banda praticava e que isso também colaborou para a pífia qualidade do resultado final. Anos mais tarde, Max também iria admitir que não afinou sua guitarra para as gravações.

Vamos somar os fatores do álbum: banda iniciante, com integrantes ainda adolescentes, técnicos de som sem experiência com o Metal, um inglês ainda mais sofrível… Os garotos utilizavam dicionário para poder transcrever para o inglês. Prenúncio de tragédia, não é mesmo, caro leitor? Não foi o que a história mostrou. “Morbid Visions” é um dos primeiros discos de Death/ Black Metal do mundo. Quem vê o Sepultura atual, nem imagina o quão diferente era a sonoridade da banda. Ainda assim, eles já davam uma pequena amostra do que eles se tornariam, pois nas primeiras prensagens há a inclusão do primeiro movimento de Carmina Burana, “O Fortuna“. As versões mais recentes não apresentam essa inclusão, provavelmente por questões de direitos autorais.

Apesar da baixa qualidade da gravação e produção, o álbum mostra que a banda tinha potencial para fazer boas canções. E isso se reflete em faixas como a própria “Morbid Visions“, “Crucifixion” ou “Troops of Doom“, que ganhou uma roupagem nova e foi regravada para entrar como bônus track do álbum “Schizophrenia“. Essa faixa é um dos maiores clássicos do Metal brasileiro, se não o maior. O engraçado aqui é que os integrantes utilizavam pseudônimos, no mínimo, risiveis: Max era o Possessed; Igor era o Skullcrusher; Jairo era o Tormentor e Paulo, que sequer tocou uma nota sequer, era o Destructor.

Em 34 minutos, temos uma banda com gana e letras que mudariam por completo menos de dez anos depois. Aqui, as influências, tanto sonoras quanto líricas eram de bandas como Hellhammer, Bathory, Possessed, e Venom e os temas abordados eram ocultismo. Bem diferentes dos temas sociais, adotados em “Chaos A.D.” e “Roots“, quando mais maduros, fizeram a melhor fase da história do quarteto.

Depois disso vieram os shows com Venom e Exciter, a saída do guitarrista Jairo para a entrada de Andreas Kisser e a mudança para São Paulo, para depois ganhar o mundo. Assim, a banda ia amadurecendo. E esse “Morbid Visions” é a pedra fundamental da maior banda de Heavy Metal que o Brasil já viu. Alguns mais radicais acham que o único disco bom do Sepultura foi esse. Há controvérsias, é claro, mas é inegável que sem ele, nada do que aconteceu depois existiria. Sem exagero algum.

Morbid Visions – Sepultura

Data de lançamento – 10/11/1986

Gravadora – Cogumelo

 

Faixas:

01 – Morbid Visions

02 – Mayhem

03 – Troops of Doom

04 – War

05 – Crucifixion

06 – Show me Wrath

07 – Funeral Rites

08 – Empire of the Damned

 

Bônus tracks (EP Bestial Devastation):

09 – The Curse

10 – Bestial Devastation

11 – Antichrist

12 – Necromancer

13 – Warriors of Death

 

Formação:

Max Cavalera – vocal/ guitarra/ baixo

Igor Cavalera – bateria

Jairo Guedz – guitarra/ Baixo