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Music Premiere: Institution – “Espectador Inconsciente”

Music Premiere: Institution – “Espectador Inconsciente”

12 de outubro de 2021


Camila Mira e Fabiano Battaglin

Conhecida pelo som pesado que mistura elementos do hardcore e do heavy metal desde 2013, a banda paulistana Institution afiou o discurso em suas letras no segundo álbum ‘Ruptura do Visível’, lançado em março de 2020 pela gravadora Hearts Bleed Blue (HBB) em LP, em CD e em edição digital.

Agora a banda retorna com um novo lançamento, o single “Espectador Inconsciente”, uma música B-Side, que ficou de fora do  do álbum ‘Ruptura do Visível’. O single chega amanhã, dia 13 de outubro, em todas as plataformas de streaming, mas o Headbangers News traz com exclusividade o single e uma entrevista com o vocalista Hélio Siqueira.

“Esta é a primeira música que fizemos para o ‘Ruptura do Visível’, justamente por isso ela é um reflexo inicial de um direcionamento, ou seja, tentávamos na época buscar novos elementos e texturas para o que viria a se tornar o Ruptura”, conta o vocalista Hélio Siqueira. “Por essa razão vemos ela mais como uma música de transição. No fim ela ficou um pouco deslocada do resto do disco e nos pareceu uma boa ideia lançá-la posteriormente como um lado-b quando o disco fizesse um ano de lançamento, mas devido a pandemia muita coisa mudou, inclusive os planos de lançamento dela, sendo lançada só agora”.

A música trata de temas muito atuais e pertinentes – assim como as músicas do disco ‘Ruptura do Visível’ que têm um substrato político bem pautado. Sobre o processo de composição de “Espectador Inconsciente” e a mensagem que o Institution passa, Hélio comenta: “Buscamos sempre temas sociais e políticos recorrentes visando o questionamento do ouvinte. Infelizmente, no Brasil o que não faltam são males sociais, especialmente nos dias de hoje. A questão sobre a influência midiática não é nova, mas desde as manifestações de 2013 ela ganhou força e o golpe da Dilma em 2016 foi um dos resultados disso. A mídia faz recortes, direcionamentos e muitas vezes falsificações ou omissões de informações de acordo com os interesses da burguesia, uma vez que esta é justamente a detentora dos meios de comunicação, seja por posse direta ou indireta por meio de alianças. O proletariado trabalha arduamente e, no seu pouco tempo livre busca entretenimento, sem se dar conta que este também é produzido e difundido pela burguesia. No fim das contas, a grande maioria funciona como um espectador que recebe inconscientemente uma chuva de informações que o direcionam a pensar de uma determinada forma, que visa sempre os interesses da burguesia”.

O estilo rock e metal está basicamente vivendo por conta própria no cenário underground – hoje em dia, com a divisão política, o cenário ficou mais segregado.  Sobre a falta de mais parceria e/ou consciência entre as bandas e, principalmente, entre o público, Hélio pensa que a música, assim como toda ferramenta artística tem um papel transformador importante. “Por meio da arte somos capazes de novas perspectivas, novas reflexões sobre nós e sobre o mundo. Viver é um ato político, então nada mais natural de que tais perspectivas tenham como substrato questões políticas. Acho engraçado quando vejo pessoas dizendo que certas artes devem ser apenas para o entretenimento, pois elas se esquecem que na arte se encontram valores sociais/políticos, isto é, aquilo que é comunicado na obra teve influências morais (perspectivas do autor, sua classe social, valores que aprendeu em vida etc), que por sua vez propagarão os mesmos ou novos valores. Ainda assim, acho que faltam posicionamentos políticos mais firmes no cenário. Somos um povo que vê a política como um bicho de 7 cabeças porque ela foi configurada desta forma intencionalmente. Por isso não se debate muito política e, consequentemente, não se desenvolve uma consciência crítica dos problemas sociais. É importante a abertura de diálogos desse tipo nos shows, entre as bandas, públicos, zines etc para fomentarmos o debate. Só quando formos capazes de percebermos os problemas ao nosso redor que seremos também capazes de refletirmos a respeito de soluções efetivas”.

Seja na atitude ou na sonoridade, no Institution o hardcore e o metal sempre caminharam lado a lado desde a sua formação em 2013, provando ser uma banda que representa o Brasil, fugindo do amadorismo e da “mesmice” tão comum. Em quase 10 anos de trabalho a banda acumula em sua carreira 2 álbuns e uma centena de shows pelo Brasil. Com o lançamento do “Espectador Inconsciente” a banda sobe mais um degrau e prova que está entre as melhores bandas nacionais.

“Ainda que a faixa seja um lado-b do Ruptura, nós a consideramos uma faixa forte, tanto que decidimos gravá-la junta com o disco. Esperamos que ela seja um frescor aos ouvidos daqueles que desejam ouvir algo novo nosso, mesmo que a faixa tenha sido composta há uns 5 anos e gravada há uns 2 anos. Ela é pesada, dissonante e tem uma parte cadenciada para os fãs do clássico 2step”, finaliza Hélio Siqueira.

O single foi produzido por Rodolfo Duarte e Muriel Curi, mixado por Fernando Sanches e masterizado por Brad Boatright, que já trabalhou com nomes como Nails, Poison Idea, Harm’s Way e Full Of Hell. A arte do B-Side, feita por Antonio Augusto, é uma colagem com base na arte original do álbum ‘Ruptura do Visível’, de Gustavo Magalhães.

Antonio Augusto