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Memory Remains: Black Sabbath – 43 anos de “Never Say Die!”, os flertes com o jazz, rejeição por parte dos fãs e a demissão de Ozzy

Memory Remains: Black Sabbath – 43 anos de “Never Say Die!”, os flertes com o jazz, rejeição por parte dos fãs e a demissão de Ozzy

28 de setembro de 2021


Se o início da década de 1970 foi o auge do Black Sabbath que surgia junto com o Heavy Metal, o estilo que eles próprios criaram, a metade final era bem caótica: briga jurídica com empresários, saída e retorno de Ozzy para depois uma demissão definitiva, mudança na sonoridade… E o Memory Remains desta terça-feira vai tratar de “Never Say Die!“, o oitavo e último disco com a formação original, que completa 43 anos nesta data.

O play de hoje tem duas datas de lançamento distintas: 28 de setembro é a data de lançamento nos Estados Unidos e no Reino Unido foi lançado no primeiro dia do mês de outubro. Foi lançado por dois selos: Warner na América e Vertigo no Reino Unido. Nós optamos pelo 28 de setembro pois é a mais utilizada como sendo a data original do lançamento. Provavelmente, se tivermos leitores britânicos que entendam a língua portuguesa, estes irão discordar de tal afirmação.

Como contamos na matéria que fizemos há alguns dias atrás sobre “Technical Ecstasy“, que você pode ler clicando AQUI, a banda vinha enfrentando problemas tanto com seu vocalista, Ozzy, que ficaria um ano afastado, quanto com a recepção do disco, que não foi tão boa assim. Enquanto Ozzy esteve fora, a banda tentou Dave Walker, ex-Fleetwood Mac. Eles escreveram algumas letras, porém, Ozzy ao retornar para a banda, simplesmente se recusou a cantar qualquer coisa que Walker tivesse escrito e por isso a banda acabou cedendo aos caprichos do Madman e reescrevendo todo o disco. Por conta disso, Bill Ward acabou gravando os vocais na faixa “Swinging the Chain“, pois a banda também se recusou a reescrever essa faixa. Todo esse impasse resultou no atraso do processo de gravação.

Processo esse que perdurou entre os meses de janeiro e maio de 1978, no estúdio “Sounds Interchange“, em Toronto, Canadá e novamente com produção assinada pela própria banda. Vamos então sem mais delongas, passear por cada uma das nove faixas aqui presentes.

A faixa título abre muito bem o play. Temos aqui uma música agradável ao extremo e que navega nas ondas do Hard Rock. Os bons riffs de Tony Iommi e as batidas retas de Bill Ward são perfeitas. Eu ouvi essa música pela primeira vez através do Megadeth, que fez um cover brilhante. Mas mais brilhante é a versão original. Já vale por todo o play.

Johnny Blade” é a faixa número dois e apesar de uma intro bem estranha, com teclados medonhos, mas assim que a música vai se desenvolvendo, a má impressão passa e temos uma música com os dois pés no Rock Progressivo, bem crua e interessante. Temos aqui um Bill Ward insano, com viradas perturbadoras em seu kit de bateria. “Junior’s Eye” é outra que se destaca entre as melhores do play, com sua pegada jazzística nas estrofes, ganhando em peso e ficando visceral no refrão. Baita música.

Virando o lado da bolacha, temos “A Hard Road“, que é bem progressiva e traz um clima psicodélico. A curiosidade aqui é que essa faixa é cantada por todos os integrantes em sua parte final, sendo isso um acontecimento inédito na carreira da banda. “Shock Wave” vem a seguir e é outro baita sonzão. Pesada na medida certa e bastante agradável. O belo solo de Iommi é a cereja do bolo. Aí chega uma das músicas mais controversas do álbum: ela atende pelo nome de “Air Dance”. E ainda que ela tenha belos acordes de teclado, isso não é Black Sabbath. Ficou realmente estranho, mas ainda não era o pior que o álbum poderia apresentar, como diria o dublê de presidente do Brasil “nada é tão ruim que não possa piorar”. É, perdão, caro leitor, por parafrasear um incompetente, até procurei outra frase, sem sucesso.

Over to You” devolve as coisas para o Rock, ainda que distante daquilo que sempre se caracterizou como sendo o som do Black Sabbath. Um pouco melhor do que a faixa anterior, mas muito abaixo, principalmente por se tratar da última faixa cantada por Ozzy em um álbum de estúdio com a formação original, pois nas duas faixas seguintes, uma é instrumental e a outra foi cantada por Bill Ward.

E vamos falar exatamente dessas duas faixas, que encerram o disco da pior forma possível: a estranha “Breakout“, que tem um instrumental que lembra qualquer outro artista, mas jamais lembraria a banda que criou o Heavy Metal e que vem influenciando as bandas geração após geração. Essa bizarrice dura apenas dois minutos, felizmente. E “Swinging the Chain“, a faixa que causou o impasse entre Ozzy e o restante da banda, que não tem nada de Rock em sua sonoridade. Eu tendo a dar razão para Ozzy, pois é uma música totalmente desnecessária e poderia ser reescrita. Uma pena que aquele que seria o último play com a formação original tenha acabado de uma maneira tão melancólica.

São 45 minutos onde a banda fez um bom trabalho na primeira parte do play, mas a segunda metade quase pôs tudo a perder. É até constrangedor falar isso de um disco do Black Sabbath, mas de fato os caras não estavam inspirados. Foi um álbum que teve o projeto inicial de ser composto e gravado com outro vocalista, mas as coisas mudaram e Ozzy foi realocado ao posto. Talvez isso tenha feito os caras errar a mão. Acontece, mas é muito pouco para um álbum que foi o fechamento de um ciclo, claro que naquele momento eles não sabiam que seria a última vez em estúdio.

Há quem goste muito deste álbum: o guitarrista do Soundgarden, Kim Thayil, cita o aniversariante do dia como sendo um dos seus discos favoritos do Black Sabbath; o guitarrista Andy LaRocque (King Diamond e Mercyful Fate) disse que foi influenciado por este play quando escreveu a parte melódica da icônica canção “Sleepless Night“; Dave Mustaine, que homenageou a banda tocando a faixa “Never Say Die!” no tributo “NIB II“, elogiou a simplicidade dos riffs de Iommi e os elegeu como seus favoritos de sempre.

Apesar dos pesares, a banda saiu em turnê, que teve relativo sucesso, porém, com alguns revezes: uma determinada apresentação precisou ser cancelada, pois Ozzy Osbourne simplesmente não apareceu. O motivo? Estava dormindo, bêbado (e provavelmente sob efeito de drogas), no quarto do hotel onde estava hospedado. Outro fator de discórdia era o fato de Tony Iommi reservar um longo tempo nas apresentações para apresentar uma performance de improvisações em sua guitarra, ele ficava por quase uma hora. Tal fato irritava Ozzy, que certa vez deu a seguinte declaração:

“Eu sempre vi o Black Sabbath como uma banda de Rock! Iommi queria dar outro segmento à banda, o Sabbath não é uma banda de Jazz, e sim de Rock!”

Pela declaração acima, podemos perceber que as coisas já não estavam boas. Mas a turnê continuou e rendeu a gravação de uma das apresentações, ocorrida no “Hammersmith Odeon“, na cidade de Londres e que foi transformada em DVD com o mesmo nome do álbum. Ainda sobre essa turnê, o Van Halen foi a banda encarregada de abrir os shows.

Never Say Die!” ficou no 12° lugar nas paradas britânicas; na Suécia alcançou a 37ª posição e na “Billboard 200“, figurou na 69ª posição. A revista canadense RPM classificou o álbum em 90⁰ em sua parada musical. Foi certificado com disco de ouro nos Estados Unidos pela venda de 500 mil cópias.

Como sabemos, Ozzy foi demitido após a turnê e cada um seguiu seu caminho: o vocalista trilhou uma carreira solo vitoriosa, enquanto que Tony Iommi carregou o Black Sabbath entre erros e acertos (talvez mais erros, infelizmente), mas ainda bem que não conseguiu manchar o nome e a história que ele mesmo lutou para conseguir. Para o lugar de Ozzy, seria chamado um certo Ronnie James Dio, que não ficou muito tempo no cargo, mas gravou o maravilhoso “Heaven and Hell“, que foi uma ótima maneira de redenção. Mas isso é assunto para outro dia.

Porque hoje é dia de celebrar esse play, mesmo não sendo um dos melhores dos caras, carrega esse fardo de ser o último com os quatro fundadores, que voltariam a se reunir para alguns shows na década de 1990 e que rendeu o maravilhoso disco ao vivo “Reunion” e já no ato final, nos anos 2000, a banda voltaria mais uma vez, porém, deixando Bill Ward de fora, o que foi uma grande mancada. O Black Sabbath é e sempre será a banda mais importante do Heavy Metal e merece ser exaltada todos os dias. As gerações que virão depois da nossa precisam manter esse legado sempre vivo. Viva o Black Sabbath.

Never Say Die! – Black Sabbath
Data de lançamento – 28/09/1978
Gravadora – Warner

Faixas:
01 – Never Say Die!
02 – Johnny Blade
03 – Junior’s Eye
04 – A Hard Road
05 – Shock Wave
06 – Air Dance
07 – Over to You
08 – Breakout
09 – Swinging the Chain

Formação:
Ozzy Osbourne – vocal
Tony Iommi – guitarra
Geezer Butler – baixo
Bill Ward – bateria

Participações especiais:
Don Airey – teclados
Jon Elstar – harmônica em Swinging the Chain